ORAÇÃO



"De mortuis nihil nisi bonum" . Assim afirma um antigo adágio latino.
Sobre os mortos não se deve dizer nada, a não ser coisas boas.
Embora isso seja verdade, não seria razoável que agíssemos como se todos os nossos falecidos tivessem sido confirmados em graça e morrido no mais absoluto estado de perfeição.
Por isso, o dia de hoje precisa ser considerado com a intenção que teve a Igreja ao instituí-lo.
A comemoração hodierna, ainda que tenha suas raízes desde os primórdios do cristianismo, encontra grande força na venerável figura de S. Odilão, Abade de Cluny. É ele que, tendo profundíssima devoção pelas almas do purgatório, instituiu essa celebração para o seu mosteiro e para todos os demais que estavam ligados à reforma cluniacense. Assim, já no século XII toda a cristandade orava pelos mortos no dia 02 de novembro. 
Tendo contemplado a Igreja Triunfante no dia anterior, agora a Igreja Militante volta-se para a Igreja Padecente.
Todavia, de uns tempos para cá, a recordação dos mortos já não mais se associa a oração, mas à saudade que sentem os vivos e como amenizar essa saudade, diante disso a recordação dos mortos, começa a ser praticamente um elogio às altíssimas virtudes que cada um viveu, de modo que, temos a impressão que todos já estão no céu, não sendo mais necessárias nossas orações.
Até mesmo certas orações contemporâneas no Ritual de Exéquias parecem quase afirmar que a pessoa já está no paraíso....
Isso se deve à influência protestante, mesmo na Igreja Católica.
Para o protestante não existe o purgatório, de modo que ao pensar num morto, não há oração. Porque se estiver no Paraíso, dela não necessita; e, se estiver no inferno, ela não adiantará.
Por tão boas que possam ter sido as pessoas que conviveram conosco, se ainda não foram canonizadas, temos para com elas a obrigação da oração, da indulgência e da penitência, como obras  máximas de caridade para com os mortos.
Muitos irão aos cemitérios, chorarão, pensarão na falta que sentem, pedirão a Deus que alivie a sua tristeza, colocarão flores, mas esquecerão de rezar. Querem homenagear, querem ser consolados e esquecem-se de rezar.
Caros amigos, recordo-me de um fato da vida de S. Cura d'Ars.
Ele conviva com um padre muito santo chamado Padre Balley. Como ambos eram muito penitentes acabavam acontecendo episódios até engraçados, como o quando o povo foi "denunciar" ao Bispo a penitência sempre mais duras às quais ambos se submetiam... E também o mal-humor da empregada da casa paroquial que cozinhava para dois padres que se sentavam à mesa para fazer jejum...
Quando estava para morrer, Padre Balley, chamou seu discípulo e como quem tem um segredo a revelar, tirou de trás de seu travesseiro os cilícios e as disciplinas que costumava usar e disse para o futuro Cura d'Ars: "Esconda isso! Se as pessoas virem isso, vou achar que sou um santo, não rezarão por mim e me deixarão no purgatório até o fim do mundo..."
Queridos amigos, certamente nossos pais, avós, amigos falecidos não eram pessoas ruins. Eram, muito provavelmente como nós, pessoas boas, mas que temos também limitações e fraquezas. Essas limitações e fraquezas podem ser hoje uma razão para que eles ainda estejam no purgatório e é a nossa oração que eles esperam para poderem saciar a sede de contemplar a face de Deus.
Oração! É o grande grito do dia de hoje. Esqueçamos de nós. Esqueçamos nossa saudade e nossa dor.
Eles precisam de nós. Eles hoje só tem a nossa oração.
Requiem aeternam dona eis, Domine! Et lux perpetua luceat eis! Amen!
Ao mesmo tempo, nos fará um grande bem considerar que esse dia, mais cedo ou mais tarde será nosso. A recordação da transitoriedade da vida e proximidade da morte nos ajudam a pesar bem cada coisa e a viver intensamente e santamente cada segundo.
O que hoje é costume de rockeiros e hippies já foi uma obra recomendada e vivida por muitos santos: ter uma caveira. E ao olhar para ela, rezar pelos nossos falecidos e lembrar que não somos imortais, como o mundo moderno nos tenta convencer.
Memento mori! Lembra-te que vais morrer!

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