POUCOS

"São poucos os que se salvam?", perguntaram a Nosso Senhor.
Se respondesse que sim, nós certamente consideraríamos a salvação como algo fácil, e acabaríamos por descuidar da nossa felicidade eterna. Mas também se respondesse que não, nós acabaríamos caindo numa desolação tão grande que consideraríamos inútil qualquer esforço em nos conformarmos com Nosso Senhor.
Exatamente por isso, Nosso Senhor responde a essa pergunta sem dizer nem que sim, nem que não, mas que devemos fazer todo esforço para entrarmos pela porta estreita. A porta ainda está aberta, mas é estreita, é possível entrar, mas não sem esforço.
A esse esforço a Igreja chama ascese.
De modo bem simples, poderíamos considerar como ascese três elementos muitos simples: nossa oração, nossas mortificações e nossos deveres de estado.
A oração consiste em falar com Deus. Falamos com aquelas fórmulas já consagradas pela piedade cristã, mas também falamos do nosso coração, contando a Deus os fatos da nossa vida, ainda que corriqueiros, e pedindo-lhe luzes para as decisões que precisamos tomar. Também recorremos à Santíssima Virgem, aos Anjos e Santos como exemplo e intercessão.
O pecado original gerou em nós um certo descontrole, retomamos esse controle através das mortificações. As mortificações são ativas quando as escolhemos, como por exemplo, não dormir após o almoço, tomar um banho frio, não comer açúcar e outras coisas desse tipo. Mas também podem ser passivas, que são as cruzes que nos encontram, um atraso, um revés financeiro, uma doença... também estas, ou melhor, ainda mais estas precisam ser acolhidas por nós com amor e paciência.
Mas o grande lugar de nosso encontro com Deus são os nossos deveres de estado. A família, o trabalho, as nossas ocupações não são empecilhos para a nossa ascese, são lugares para a nossa ascese. A paciência com o cônjuge, o cuidado com os filhos, o esmero no estudo ou no trabalho feito com perfeição são caminhos que nos conduzem a Deus e locais de nosso encontro com ele.
São portas abertas, mas estreitas, pois como já recordava Santo Tomás que perseverar no bem é mais difícil que simplesmente não fazer o mal. A fidelidade de cada dia, a paciência de cada instante, o ensinar de novo, o ser cordial... um ou dois dias qualquer um consegue. Mas o Senhor nos pede isso sempre. É a porta que está aberta, mas que é estreita.
Queridos amigos, não busquemos a Deus apesar de nossos deveres de estado. Encontremos a Deus em nossos deveres de estado, ali, como Deus absconditus, Deus escondido - de modo semelhante a Santíssima Eucaristia - Ele nos aguarda e nos ama.

Comentários