AGOSTO/DESGOSTO


Já vamos nos aproximando do fim do mês de agosto, meus colegas padres dizem que a crença de que agosto é o mês do desgosto é tão entranhada em algumas pessoas que até o número de casamentos baixa nesse mês.
Eu, porém, devo confessar que muito me agrada o mês de agosto.
Vez por outra tenho um desgosto, alguns também em agosto, mas eles não marcam data para chegar.
Gosto de agosto porque muitos santos por quem tenho apreço são celebrados nesse mês: há pelo menos 3 festas marianas, o dia de Santo Afonso, do Cura d'Ars, São Pio X... e tantos outros como puderam acompanhar em nosso blog.
Um desses Santos é São Tarcísio.
Não falei dele, porque sua celebração ocorre a 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Glória.
Mas, trago aqui uma poesia de um querido monge que já foi para a Casa do Pai, Dom Marcos Barbosa, que de forma tão emocionante fala desse santo adolescente. Boa leitura!

TARCÍSIO
Na escuridão
pequeno vulto
- Que leva oculto
no coração?
Logo outro vulto
também oculto,
o vai seguindo
na escuridão.
E vai pensando:
- Que leva ele,
que leva oculto
no coração?
Já outro vulto
ao que seguia
veio juntar-se
na escuridão.
-Que leva oculto
(os dois dizem),
que leva oculto
no coração?
Já outro e outro,
qual procissão,
seguem Tarcísio
na escuridão...

- Na aurora agora,
não mais oculto,
que levas (dize!),
pequeno vulto?
Vulto calado,
vulto embuçado,
mas algo esconde
no coração...
- Leva um tesouro?
Leva um poema?
Uma invenção?
E atrás o seguem,
atrás prosseguem,
atrás perseguem
os outros vultos.
- Será leiteiro
será padeiro,
ágil menino
tão de manhã?!
Ah! se não falas,
ah! se te calas,
as próprias pedras
irão gritar...
Não vês acaso
os que te seguem
algo apanhando
no rude chão?
Que levas (dize,
ah! dize logo!)
tão em segredo
no coração?
Todo calado,
todo embuçado,
vai o menino
na solidão.
Parte a primeira,
parte a segunda,
terceira pedra
o que vem prostrar!
Mesmo caído,
até ferido,
tu te obstinas
em não falar!
Pequeno vulto,
agora oculto
por sob as pedras
(tantas lançaram!),
ninguém queria
fazer-te mal...
É sempre assim,
irrefletida,
cega, incontida,
a multidão.
Por que não disseste
o que levavas,
o que levavas,
no coração?
(O que levavas
leva-te agora
em plena aurora
em pleno dia...)
Tiram as pedras,
vão procurando,
vão pesquisando
na confusão.
- Onde o poema,
onde o tesouro,
onde a invenção?
Que ele levava,
que ele ocultava
no coração?
Mas nada encontram,
Pois sob as pedras,
por sobre o pó,
tão esmagados,
grãos triturados,
Tarcísio e Cristo
já são um só!
                                                               (Poemas do Reino de Deus, 1961)

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