SINCERIDADE

Ao celebrarmos hoje a festa do Apóstolo S. Tomé, a Igreja nos traz novamente a leitura do Evangelho de S. João que narra o encontro do Cristo Ressuscitado com o Apóstolo. São Tomé pode nos parecer um tanto antipático e ranzinza na primeira parte desse Evangelho, mas sabemos que ele animou os Apóstolos a darem a vida com Jesus ao perceber que os judeus queriam matá-l'O em Jerusalém, e também foi ele a arrancar dos lábios de Jesus uma das mais belas frases do Evangelho: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida".
Mas esses três fatos se devem à absoluta sinceridade do Apóstolo.
Ele não se deixa levar por um falso otimismo diante do ódio crescente dos judeus, ele não pensa num plano mágico e infalível. Ele percebe que o Senhor caminha para a morte. Não lhe é dado ainda compreender que a morte não é o ponto final. Mas se Jesus vai para a morte, ele não pode admitir para si outro destino.
Tomé não têm vergonha de admitir sua ignorância. "Senhor, não sabemos para onde vais..." Nem sempre as palavras de Jesus foram claras, e não faltaram aqueles que, querendo parecer mais do são, fingiam compreender. Mesmo entre os Apóstolos nem sempre houve a coragem de mostrar a própria ignorância. Mas na Ceia da despedida, Tomé perde o pudor e se mostra a Jesus como quem não sabe. E ao mostrar que não sabe, fica sabendo tudo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"!
Essa sinceridade quase selvagem não podia se maquiar diante do mistério pascal.
Aquele que não podia fazer de conta que o Senhor não iria morrer, não podia fazer de conta que acreditava que Ele estava vivo.
Aquele que não teve vergonha da falta de conhecimento, também não ocultaria a falta momentânea da fé.
Meu Senhor e meu Deus!
Vendo a humanidade rediviva, Tomé proclama a Divindade Imortal.
Vendo Mestre Ressuscitado, Tomé proclama o Deus sempre vivo.
Queridos amigos, dificilmente nós podemos manifestar o que realmente somos e sentimos diante das pessoas. Até mesmo diante das que mais nos amam e nós mais amamos, por vezes é necessário maquiar um pouco para não causar-lhes nenhum desgosto...
Mas não só é inútil disfarçarmos diante de Deus, como não nos faz bem, porque corremos o risco de acreditarmos em nossa própria mentira...
Não tenhamos vergonha de Deus!
Não tenhamos vergonha de dizer: "Senhor, como me custa estar aqui! Preferia morrer esgotado de trabalho a dedicar ao Senhor esses poucos minutos de oração..." E a partir daí damos a Deus a aquela matéria-prima que ele mais admira e mais deseja: a sinceridade.

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