DEIXARÁS PERECER O BOM COM O MAU?

"Deixarás perecer o bom com o mau?"
Assim audaciosamente nosso Pai Abraão se dirige ao Senhor. Deus então pacientemente faz com que Abraão perceba que diante do mal que dominava Sodoma e Gomorra, não havia justos que pudessem de algum modo evitar o castigo destinado àquelas cidades.
Se houvesse pelo menos 10...
Mas como nem sequer tinham 10 justos, o Senhor as destruiu...
E na Igreja de hoje, no Clero de hoje?
Será que chegamos num ponto tal que não se encontre sequer 10 clérigos dignos?
Será que o número de joio chegou a tal ponto que justifique arrancá-lo, ainda que junto se leve o trigo?
As recentes orientações que foram emanadas pelo Vaticano para os possíveis casos de abusos cometidos por clérigos parecem afirmar que sim.
Certa vez, questionou-se a um colaborador de S. João Paulo II sobre o fato de nem sempre o Papa ter agido de forma incisiva diante de algumas denúncias. O colaborador respondeu que João Paulo II não costumava acreditar porque em seu pensamento não se podia crer que um homem que diariamente toca os Santos Mistérios pudesse se deixar corromper por vícios tão baixos. De fato, para esse Papa foi um sofrimento muito grande reconhecer, ou mesmo descobrir, que houvesse abusos, não apenas pela vergonha que eles provocam, mas por ser um sinal da falta de amor a Deus de alguns ministros da Igreja.
Só que, talvez na ânsia de se reparar uma suposta anterior falta de celeridade da Igreja, parece que optou-se, especialmente nos últimos meses, pelo caminho oposto: o de considerar todo ministro como um abusador em potencial, chegando-se a solicitar em cada diocese uma espécie de guichê para receber esse tipo de denúncia.
Não é a primeira inversão de valores que se percebe no pontificado atual.
Uma outra, por exemplo, se deu em relação ao matrimônio e à sua validade. Se no passado o ponto de partida para qualquer estudo sobre um matrimônio era a sua validade, hoje se têm por orientação praticamente partir da consideração de que a maioria dos casamentos são nulos, o que jamais poderia em sã consciência se afirmar.
O mesmo agora se orienta a fazer em relação aos clérigos. Ainda que "pro forma" se fale do princípio básico da presunção de inocência, já se estipulam medidas que certamente não são um prêmio para o caso de qualquer denúncia, feita por qualquer pessoa, contra qualquer clérigo.
E para que não haja como esse novo modus operandi deixe de acontecer, lançou-se também uma série de orientações aos Bispos.
Mas quem são os Bispos?
Bem, o Concílio Vaticano II e o novo Código de Direito Canônico fez dos Bispos praticamente  os Papas de suas dioceses. Cada Bispo acabou por ter um poder tão extenso que poderíamos dizer ilimitado. As conferências episcopais não se contentaram em ser apenas um organismo de mútua cooperação para se tornarem definidoras até mesmo da fé da moral de suas regiões, como se compreendeu a partir do Sínodo das Famílias.
Mas... se se considerar que um Bispo acobertou um caso de abuso, ele será destituído. 
Pois bem, o que seria acobertar?
Praticamente acobertar seria o Bispo discordar de um eventual julgamento que não fosse o seu próprio. Ou seja se, o Bispo acolhe a acusação, investiga, ouve ambos os lados, chama testemunhas de ambos os lados, e conclui, levando em conta tudo o que ouviu que a denúncia na verdade é uma calúnia, ele pode estar acobertando.
Desse modo então, surge a necessidade de um outro juízo, superior ao do Bispo e mais confiável. Qual seria? A justiça do mundo.
Sim, o mesmo mundo que é inimigo de Cristo e de Sua Igreja será o juiz imparcial e perfeito para julgar os ministros de Cristo, sejam eles padres, Bispos ou Cardeais.
A Igreja apenas ratificará esse juízo como se fosse apenas uma disputa judicial de uma ONG. 
E, se o Bispo quiser reclamar para si as suas altíssimas prerrogativas que lhe são atribuídas especialmente após o Concílio? Será demitido. Como também o padre considerado culpado pelo mundo será demitido. E também o Arcebispo que não entregar o Bispo que não entregou o Padre será demitido. 
Não, não estamos nos programas de TV estilo Roberto Justus ou Donald Trump. Estamos na Igreja de Cristo, ou no que sobrou dela. Talvez estejamos agarrados a uma tábua do que ainda persiste existir daquele barco de Pedro...
Em resumo, os Bispos terão que decidir entre seus Padres (se é que algum Bispo ainda vê os Padres como "seus", no sentido de filhos) e o próprio episcopado. 
Meus amigos, não estamos falando aqui de acobertar os culpados, mas de condenar os inocentes, ou de entregá-los literalmente na mão de seus inimigos. A justiça que julgará os padres é a mesma que promove o aborto, o divórcio, a ideologia de gênero, a eutanásia...
A justiça que vai julgar um padre acusado de abuso, é a mesma que permite exposições de """""arte"""" onde um homem convida crianças a tocar sua genitália. E onde até mesmo o bestialismo é considerada uma virtude.
A justiça que vai julgar os padres é a mesma que não permite que os padres ensinem os mandamentos da Lei de Deus naquilo que eles têm de mais natural, mas considera liberdade de expressão uma pessoa tirar um rosário do seu ânus.
Quando se trata do processo de Jesus, os Evangelhos manifestam claramente que a decisão de matar Jesus foi anterior ao processo. O processo foi apenas o modo de travestir de legalidade o que era ilegal, mau, e corrupto.
Por essas coisas, a Igreja já estava acostumada a passar.
Na perseguição do Império Romano, o nome cristão era sinônimo de sentença de morte; na Revolução Francesa, os papéis com as sentenças de morte já vinham assinados, era só preencher o nome do acusado; na revolução do México ou na guerra civil espanhola se não se cuspisse na Bíblia se era fuzilado... Mas nesses casos os ministros de Cristo tinham uma Mãe, que embora não os salvasse do martírio, estava ao seu lado nessas horas. E agora?
Não experimentam os padres aquilo que dizia a antiga sequência dos mortos: "Eu tão pobre que farei? Que patrono chamarei? Nem o justo está seguro!"
Sim, talvez a vetusta sequência dos mortos seja a reflexão mais atual sobre o estado do nosso clero.


Comentários