QUERER A DEUS

Um jovem nascido "em berço de ouro", cheio de riquezas, morando num castelo, resolve deixar tudo para se consagrar a Deus como sacerdote. 
Imaginamos esse jovem como um predileto de Deus que doravante será em tudo protegido pelo Senhor.
Como seminarista, ele se aprofunda notavelmente na vida de penitência, fazendo rigorosos jejuns, e castigando o seu corpo, tornou-se um verdadeiro anjo de pureza.
Roma, onde então morava, foi assolada pela peste. Ele, então vai cuidar dos doentes.
Imaginamos esse jovem então protegido de todos os males, brilhando como um verdadeiro milagre vivo. Afinal, não era ainda sacerdote, e como padre faria um bem sempre maior.
Só que quem imagina assim, somos eu e você. Deus não.
Deus não imagina como nós.
Deus não pensa como nós.
Assim já alertou Nosso Senhor a S. Pedro: "Tu não pensas como Deus..."
S. Luiz Gonzaga acabou por contrair a peste. E morreu.
Revoltou-se? Não! Julgou-se enganado, traído por Deus? Não!
Exigiu de Deus o prêmio de todas as suas renúncias e sacrifícios? Em certo sentido, sim...
S. Luiz "exigiu" de Deus Deus. Deus era sua exigência. Ele queria Deus.
Nesse sentido ele considera uma honra imerecida morrer tão jovem. Ir para o céu tão jovem.
Queridos amigos, peçamos a Nosso Senhor que desejemos só a Ele. E que tudo o que façamos seja unicamente por Ele.
Termino com a carta que S. Luiz escreve se despedindo de sua mãe: 

Ilustríssima senhora, peço que recebas a graça do Espírito Santo e a sua perpétua consolação. Quando recebi tua carta, ainda me encontrava nesta região dos mortos. Mas agora, espero ir em breve louvar a Deus para sempre na terra dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo. Se é caridade, como diz São Paulo, chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram (cf. Rm 12,15), é preciso, mãe ilustríssima, que te alegres profundamente porque, por teus méritos, Deus me chama à verdadeira felicidade e me dá a certeza de jamais me afastar do seu temor.
            Na verdade, ilustríssima senhora, confesso-te que me perco e arrebato quando considero, na sua profundeza, a bondade divina. Ela é semelhante a um mar sem fundo nem limites, que me chama ao descanso eterno por um tão breve e pequeno trabalho; que me convida e chama ao céu para aí me dar àquele bem supremo que tão negligentemente procurei, e me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.
            Por conseguinte, ilustríssima senhora, considera bem e toma cuidado em não ofender a infinita bondade de Deus. Isto aconteceria se chorasses como morto aquele que vai viver perante a face de Deus e que, com sua intercessão, poderá auxiliar-te incomparavelmente mais do que nesta vida. Esta separação não será longa; no céu nos tornaremos a ver. Lá, unidos ao autor da nossa salvação, seremos repletos das alegrias imortais, louvando-o com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as suas misericórdias. Se Deus toma de nós aquilo que havia emprestado, assim procede com a única intenção de colocá-lo em lugar mais seguro e fora de perigo, e nos dar aqueles bens que desejamos dele receber.
            Disse tudo isto, ilustríssima senhora, para ceder ao desejo que tenho de que tu e toda a minha família considereis minha partida como um feliz benefício. Que a tua bênção materna me acompanhe na travessia deste mar, até alcançar a margem onde estão todas as minhas esperanças. Escrevo isto com alegria para dar-te a conhecer que nada me é bastante para manifestar com mais evidência o amor e a reverência que te devo, como um filho à sua mãe.

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