POR ELES

Certa feita, após uma aula, fui tirar umas dúvidas com o professor. Aproximando-me de sua mesa, vi que estava sobre ela, em destaque uma estampa com a frase "propter fratres meos" por causa dos meus irmãos. Esse professor era Dom Estêvão Bettencourt, que nessa época estava muitíssimo alquebrado por sua avançada idade e precária saúde. Quando alguém se dispunha a fazer por ele algum favor, com toda delicadeza Dom Estêvão dizia: "Não estou tão decrepto", com aquele m final característico.
O que levava esse santo homem a dar aulas, a estar sempre disponível, a não permitir para si nenhuma facilidade, senão uma oferenda íntima de si mesmo ao Senhor "por causa dos meus irmãos".
O cristianismo, lembrava Chesterton, tem uma força centrífuga, ou seja. Enquanto que a maioria das religiões levam o homem a um encontro consigo, o cristianismo leva o homem ao encontro com o outro. O Outro, Deus, e os outros irmãos, numa suavíssima complementaridade. Um monge de 80 anos que vive sua vida fechado num mosteiro é tão entregue aos irmãos como uma irmã de caridade ou um missionário.
Esse caminho é inaugurado por Nosso Senhor: "eu me consagro por eles", na sua entrega ao Pai os irmãos não são um apêndice ou um bônus. Mas uma necessidade.
Não é dado a todos o contato com muita gente. Mas a ninguém é retirada a obrigação de amar a toda gente.
Quem sabe, poderemos nós, quando algo nos custar demasiado, repetir com calma: Propter fratres meos.

Comentários