ÓRFÃOS


Prezados amigos, o nome desse blog é pensamento sacerdotal, permitam-me então pensar um pouco na situação que não apenas esse padre, mas muitos outros e mesmo a Igreja, em certo sentido estão vivendo.
Gostaria de começar com uma citação do Papa Francisco: 
Se tivéssemos enforcado publicamente 100 padres na Praça São Pedro, estariam todos felizes, mas não teríamos resolvido o problema.
Essa citação eu acabei de retirar do site da Radio Vaticano (https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-05/papa-francisco-audiencia-superioras-uisg.html). O seu contexto é sobre os abusos sexuais cometidos por clérigos. Mas chama a atenção que o Papa não diga, ou pelo menos o site da Radio Vaticano não diga, "100 padres culpados de abusos", mas simplesmente "100 padres"... Não imagino que se tenha semelhante alocução nos pontífices anteriores, especialmente numa audiência oficial e reproduzida num órgão oficial.
Também não posso deixar de olhar com atenção os nomes de dois documentos sobre o mesmo assunto: "Como uma mãe amorosa" e "Vós sois a luz do mundo".
Esse último lança a Igreja nas trevas da desconfiança, do medo e do linchamento moral. Por meio dele se institucionaliza a falta de paternidade da maioria dos bispos atuais com o seu clero, e se coloca sob desconfiança todos os padres entre si e entre os fiéis. Qualquer um pode perpetrar uma acusação grave contra um clérigo, que, embora se diga que tem a sua inocência presumida, já se predispõe a investigações e sanções no minimo humilhantes.
Ora, de acordo com as novas instruções, estariam em situação delicada, por exemplo, Santo Atanásio (acusado de ter violentado uma mulher), S. João da Cruz (acusado de ter engravidado uma adolescente), S. Francisco de Sales (o convento da Visitação era chamado de harém do Bispo de Genebra), S. Cura d'Ars (ao conseguir acabar com os bailes em Ars, os jovens arrumaram uma moça grávida que dizia ser o Pároco o pai da criança), S. Pio de Pietrelcina (acusado de promover orgias no convento quando já tinha oitenta anos...) e muitos outros.
O que acontece hoje na Igreja é que o crime terrível (diga-se bem terrível, hediondo e tudo o que há de pior) dos abusos está sendo manufaturado em caminho de destruição para muitos bons padres. Assim, um coroinha que levou um pito, um colega padre invejoso, uma mulher desequilibrada, todos se tornaram potenciais testemunhas irrefutáveis.
O que complica bastante a situação é que o crime dos abusos não costuma ter testemunhas. Mas daí a fazer da palavra da suposta vítima uma lei, é pender o pêndulo para o lado oposto.
E isto está sendo favorecido e incentivado por aquele que deveria ser o pai comum de todos os fiéis, e por isso, o pai dos padres.
Ao falar de paternidade não penso em acobertar erros, esconder falhas... Não. Pai corrige, castiga, como Deus é Pai e faz assim. Embora a maioria das pessoas considere o que disse uma blasfêmia.
Não estamos apelando para a misericórdia, tão falada e tão afastada nesse tempo, mas para a simples justiça.
Penso que se um padre fosse encontrado com uma arma, ao lado do cadáver de seu pior inimigo, seria mais fácil provar a sua inocência do que se alguém sem rosto dissesse que acha que um dia em que não se lembra, num local que não existe, se sentiu abusado pelo padre.
Poderia hoje haver um novo João Crisóstomo, um novo Atanásio? Claro que não.
Tal como na Revolução Francesa, as sentenças já estão prontas. É só preencher o nome do condenado.
O que está por detrás disso?
O desejo, impedido pela teologia, de ordenar mulheres diaconisas? O fim do celibato com a ordenação dos homens casados?
Tão curioso que o mesmo que apregoa aos quatro ventos que o clericalismo é o pior dos males, queira fazer de todos clérigos...
Ao mesmo tempo, se traz para a Igreja a mesma cosmovisão marxista de classes, onde o povo imaculado está sendo oprimido pelos clérigos abusadores. Isso é um absurdo. São as revoluções francesa e marxista no seio da Igreja!
A compreensão do horror e do trauma que uma verdadeira vítima passa nessas situações infernais, não pode partir do princípio que todo padre é um abusador.
Queridos amigos, permitam-me dizer, quem não deve, teme. A verdade nem sempre aparece.
Não é por acaso que muitos padres têm batido à porta dos mosteiros. Esse surto de vocação monástica se deve à situação de reféns em que os padres se encontram hoje.
Qualquer padre pode ser um abusador. Como pode ser um ladrão, um assassino, ou um herege.
Quando uma acusação, sem prova, tem um peso maior do que outra, igualmente sem prova, não será fruto do preconceito e de um preconceito que já institucionalizado na sociedade parece ser dogmatizado na Igreja?
Prezados amigos, renovo minha total obediência ao sucessor de Pedro. Mas justamente por amor à sua Augusta Pessoa, imploro aos fiéis que orem por ele. Para que não sirva àquela auto-demolição da Igreja, aquela silenciosa ou descarada apostasia de que seus recentes predecessores (sim, eles existem...) já alertaram.

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