NÃO

Nessa sexta-feira da Oitava da Páscoa ouvimos o relato da pesca milagrosa depois da Ressurreição do Senhor. Essa cena traz para os apóstolos e para nós uma espécie de "Déjà vu" , é uma cena repetida, mas ao mesmo tempo nova.
A pesca, o fracasso, a voz do Senhor, o sucesso, Pedro com suas atitudes peculiares...
Tudo acontece de novo, mas com um novo sentido.
Esse sentido se dá porque para os Apóstolos a volta à pesca, talvez fosse uma espécie de recomeço sem Jesus. Talvez no coração de Pedro, onde remorso, negação, medo e fuga ainda estavam muito presentes, aquela pesca era uma espécie de "pra mim chega! Já deu!", como se diz hoje.
Aqui a atitude dos demais apóstolos de o acompanharem, mostra a necessidade que temos um dos outros. Não há recriminação, nem discursos prontos de otimismo, mas há presença: "nós também vamos contigo".
Sim, Pedro é o chefe. É a rocha. Mas também a rocha necessita de um apoio.
O Senhor aparece. Eles não o reconhecem num primeiro momento. Ainda não havia luz. Nem no céu, nem no coração.
Jesus então faz a pergunta que nenhum pescador fracassado desejaria ouvir:
"Tendes alguma coisa?"
A resposta em coro, mostra toda mágoa que um trabalho inútil pode causar: Não.
Ali, Pedro não estava sozinho. Os apóstolos lhe fizeram companhia.  Mas há uma Presença sem a qual todas as presenças só servem para aumentar a solidão.
Toda a perícia dos antigos pescadores havia se tornado inútil. Não basta saber pescar, é preciso pescar.
O Senhor, por sua vez, ordena que façam algo que provavelmente já haviam feito: lançar a rede do outro lado.
Não é o novo método, mas é a nova Presença que torna a eficácia real.
Sem Cristo, por sua própria força ou perícia, a Igreja não pode nada.
Pode saber, mas não consegue fazer.
Porque só quando Cristo estiver presente é que se pode ter eficácia. É Ele quem manda pescar. Mas é Ele e só Ele que pode atrair os peixes.
Sem Ele, por melhor que sejam os barcos e as redes, por mais convincente que seja o método, só teremos nãos a responder. Ele presente, apesar de nossas imperícias e erros, é capaz de transformar o não em sim.
Em nossos momento atual, mesmo na Igreja, experimentamos muitas vezes o cansaço do não. Temos movimentos, pastorais, métodos, planos, reuniões, organizações, e isso tem gerado em muitos um grande cansaço.
Bento XVI já alertava para o fato de que muitas coisas que deveriam ser para nós uma facilidade acabaram por se tornar grandes dificuldades.
Falta para nós o sim. Falta a rede que quase se arrebenta.
Falta Jesus presente.

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