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Mostrando postagens de abril, 2024

MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES V

 A Santa Igreja, em seguida, chama o Espírito Santo como doador dos dons: "Veni, Dator munerum". A expressão "munus", é muito rica em significado. Significa desde presente ou dom a ofício, função. Creio que é nesse sentido amplo de entendimento da expressão que devemos entender quem é o Espírito Santo. Ele não apenas é quem dá os dons, mas é quem confere absolutamente tudo na Igreja. Nada na Igreja existe sem ser dado pelo Espírito Santo. Ele doa os dons, confere os carismas, institui as funções. Animando o corpo no sentido próprio de "anima", alma, em latim. Assim os dons dados em benefício dos fiéis, os carismas dados em benefício da comunidade, os ofícios integrados para o serviço. O Espírito Santo é essencialmente "dator", doador. Mais ainda, Ele mesmo é o Dom. O Dom de Deus como dirá Cristo à Samaritana, o Espírito "enviado", o Espírito que "recebereis"... Ele é a Pessoa-Dom, como ensina a Santa Igreja. Em Deus dar e pode

MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES IV

 Meus caros amigos, Repetindo por algumas vezes a palavra "veni", vêm, a Igreja começa a designar o Espírito Santo com nomes cujo sentido pretendemos agora nos deter particularmente. "Veni, Pater pauperum": Vinde, Pai dos pobres. Não é nenhuma imprecisão teológica chamar ao Espírito Santo de "Pai". Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo chama seus discípulos de "filhinhos", compara-se à galinha que reúne os "filhotes", e muitos cristãos, incluindo santos e doutores se referiam a Cristo como "Pai". Talvez por isso, tradicionalmente na língua portuguesa, se manteve para Deus Pai, a designação de "Padre": "Padre nosso", "Creio em Deus Padre", "Glória ao Padre" etc. De modo a distinguir o sentido estrito do sentido figurativo. "Vós só tendes um Pai, Deus", ensina Nosso Senhor. Em sentido estrito, somente Deus Pai é Pai. Cristo revela o nome de Pai para Deus, e estabelece, Ele mesmo, os no

MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES III

 Meus caros amigos,  Recordando o verso anterior, a Igreja pede que o Espírito Santo envie dos céus, "lucis tuae radium": um raio da tua luz.  O primeiro pedido da Santa Igreja é pela luz do Espírito Santo. Mas o que é essa luz? Creio que primeiro devemos considerar que, ao contrário do que se possa pensar a luz não está necessariamente ligada ao calor. A luz de Deus não é como a luz do sol ou a luz procedente do fogo. No Gênesis, Deus cria a luz, mesmo antes de criar o sol. A luz, antes de ser o fogo devorador, é necessariamente a verdade que ilumina. Ao separar as trevas da luz, Deus separa o erro da verdade; e o que é a luz para os olhos é a verdade para a alma. O raio vindo dos céus que a Igreja pede ao Espírito Santo, é a Verdade que vem de Deus. Uma verdade que não inventamos, não nos assenhoramos, que não é nossa, mas "tuae", dele.  E que justamente por isso, é simples, acessivel. Não é uma gnose, não é fruto de um estudo profundíssimo que exija grandes capac

MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES II

 Meus caros amigos, Após invocar a Pessoa Divina do Espírito Santo, a Igreja começa o primeiro dos vários pedidos que fará ao longo do texto: "Et emite caelitus", "E envia dos ceús". No próximo texto meditaremos sobre o quê o Espírito Santo envia; nesse verso, porém, nos interessa o "de onde" nos envia: dos céus. A cosmologia judaica distingue com certa clareza o céu dos céus. Sendo, de modo geral, "o céu" a realidade visível dos astros e estrelas e "os ceús" uma espécie de camada superior ao "céu" onde Deus habita. Em muitas línguas, como no inglês por exemplo, se concebem essas realidades em duas palavras distintas como sky e heaven. Mas em português, como em latim, a diferença se dá simplesmente entre singular e plural. No Novo Testamento, como no caso do Pai Nosso, é feita a distinção: "estás nos céus", "assim na terra como no céu". O Pai habita nos céus, sua vontade abrange toda a criação, a saber: a t

MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES I

 Meus caros amigos, A Santa Igreja no dia de Pentecostes invoca o Espírito Santo de forma particular pela sequência Veni, Sancte Spiritus, uma joia preciosa da liturgia, da poesia e do canto gregoriano. Ao longo dos próximos dias pretendo meditar verso por verso a sequência para que possamos adentrar com mais profundidade nesse texto venerável. A sequência começa com essa invocação: "Veni, Sancte Spiritus": Vem, Santo Espírito! A expressão Espírito Santo, ou Santo Espírito já é encontrada no Antigo Testamento, mas não com a compreensão que a temos. O Espírito de Deus, ou Espírito Santo, Espírito do Senhor (ruah qados, ruah adonai) que vemos por exemplo no Gênesis ou no Salmo 50, não são se referem literalmente à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas à uma emanação vivificante de Deus, ou uma forma de presença de sua Pessoa.  A palavra espírito nesses textos refere-se à uma forma misteriosa da presença de Deus, ou ao sopro vivificador d'Ele que anima e dá a vida a to

ATOS INTER-RELIGIOSOS. O QUÊ PENSAR

Meus caros amigos, A Igreja Católica pode relacionar-se de dois modos distintos com as outras religiões. Em se tratando de religiões que se identificam como cristãs, há o ecumenismo. E com religiões não cristãs, há o diálogo inter-religioso. Em ambos os casos deve haver como intenção e finalidade última, a conversão ao catolicismo. Se isso falta, certamente se cairá no relativismo de se pensar que todas as religiões são boas ou mesmo no sincretismo de se identificar o Deus Trindade revelado por Nosso Senhor com os deuses das outras religiões, com a ideia de que "Deus está em todo o lugar". Aos católicos é proibido tomar parte em cultos ditos inter-religiosos ou ecumênicos. A participação dos católicos nessas realidades destruiria a essência missionária da Igreja, fazendo com que erro e verdade sejam considerados apenas pontos de vista. A cooperação de católicos com não católicos em vista do bem comum, da justiça e da paz, nunca será completa se prescindir do anúncio de Cristo

VERDADE

 Meus caros amigos,  na medida em que o Tempo da Páscoa se dirige para o seu fim, começa a aparecer mais frequentemente a figura da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, a quem Cristo chama de "Espírito da Verdade". Sabemos que no íntimo da vida Trinitária o Espírito Santo se distingue como o Amor que procede do Pai e do Filho, e de fato, é Ele quem mantém viva em nós a chama da caridade para com Deus e para com o próximo por amor a Deus. Mas não podemos deixar passar adiante esse fato de Cristo chamá-lo de Espírito da Verdade. Se não quisermos cair numa conversa de surdos, o primeiro passo, a primeira questão que devemos impor a quem se nos dirige é basicamente se crê que haja uma única verdade. Caso nosso interlocutor não admita isso, e creia numa pluralidade de verdades baseadas na percepção subjetiva de cada pessoa, não adiantará nenhum argumento, nenhuma definição, nenhum debate. Estaremos diante de uma, como disse anteriormente, conversa de surdos. É a concepção lógic

CASA

 Meus prezados amigos, A consciência da Igreja como Casa de Deus praticamente extinguiu-se.  Para alguns a Igreja é um conglomerado de obras artísticas, ou um local que retrata uma cultura passada, ou um espaço para o encontro da "comunidade". Anula-se o pensamento de que é, na verdade, uma Casa. E, se é uma Casa, logo possui um Dono. Não raro vemos as pessoas chegando correndo e saindo correndo das Igrejas nos horários de início e fim da Missa. Ou quem chega antes ou sai um tempo depois, não necessariamente gastou esse tempo com Deus, mas com as coisas de Deus. Nunca a vida humana foi tão cercada de facilidades, nunca se teve, ou se julgou ter, tão pouco tempo, particularmente para Deus. Embora Deus esteja presente em todos os lugares e em qualquer lugar o possamos invocar, a Igreja é sua casa, lá a sua presença não é apenas a presença do Criador na criação, ou uma presença mediada pela graça na alma, é uma presença física, a qual a Igreja não temeu em cunhar a expressão &qu

EXEMPLO

Meus queridos amigos, Eu creio que ser católico é infinitamente mais belo do que ser de qualquer outra religião. Porém não é mais fácil. Primeiro porque a elevação moral que o catolicismo exige de um fiel é grandiosíssima: "ser perfeitos como o Pai..."; e, segundo, porque se alguém quiser escusar-se dessa elevação moral, a Igreja apresenta os Santos. Os Santos, num sentido amplo, são todos os espíritos bem-aventurados que gozam da contemplação da face de Deus no Paraíso. Mas, particularmente, os que são canonizados, o são não apenas para "confirmar" sua presença no Paraíso, mas porque de, algum modo, servem de exemplo ao povo cristão. Assim, o católico DEVE conhecer a vida dos Santos. Ao conhecer suas vidas, certamente irá encontrar alguns que lhe serão mais parecidos, mais próximos e com quem acabará tendo uma certa "amizade". Como se pode perceber isso é muito mais poderoso do que chamar Santa Bárbara na trovoada. Mas é reconhecer nela, por exemplo, a vi

PREVISÃO

Meus prezados amigos, Ninguém acorda e diz: "Hoje vou abrir um supermercado." E, em seguida sai, aluga uma loja, compra os produtos, contrata os funcionários, cuida da documentação etc. As coisas exigem tempo e as coisas importantes supõe sobretudo uma preparação, uma organização. Aproxima-se o mais belo dos meses, o Mês de Maria. Nele supõe-se que os católicos buscarão honrar de um modo especial a Santíssima Virgem, de forma pessoal e de forma pública, mas, para isso, é necessário organizar-se. Gostaria de propor algumas coisas para que possamos fazer nesse mês de maio, e que exigem de nós uma certa preparação. 1. Honrar de forma especial uma imagem da Santíssima Virgem. Temos essa imagem? Onde ele ficará? Em que consistirá a honra que lhe prestaremos? Flores? Velas? Um pequeno altar? Toalha? Se quisermos fazer isso na paróquia, já conversamos com o padre? Se uma imagem bonita, bem feita, geralmente custa caro, porque não imprimir uma bela representação de Maria num tamanho

BOM PASTOR

Meus caros amigos, nesse domingo do Tempo Pascal, recordamos particularmente o Cristo Bom Pastor. Ele, Cordeiro de Deus, é ao mesmo tempo o Bom Pastor das ovelhas: "o Cordeiro redimiu as ovelhas" cantou a Igreja ao longo da Oitava Pascal. Todos compreendemos a imagem do pastor. O homem que cuida de suas ovelhas, ou outro animal, para vender sua carne, sua lã, alimentar-se delas ou a utilizá-las em proveito próprio. Porém, Cristo não é pastor nesse sentido. Talvez o pastor que mais se aproxime do ideal de Cristo seja aquele que o profeta Natã descreve a David: "a ovelha era como uma filha para ele, comia de seu prato, dormia junto a ele". A relação habitual do pastor com a ovelha é semelhante ao comerciante/mercadoria. Mas Cristo não assume essa postura em nenhuma de suas menções do binômio pastor/ovelha. É o pastor que deixa as ovelhas fiéis para buscar a tresmalhada, que se faz ele mesmo porta das ovelhas e que chegará ao extremos de dar a vida por elas. Ou seja, n

ALIANÇA

 Meus caros amigos, Muitas coisas espirituais podemos aprender com o nosso corpo, consagrado como Templo do Espírito Santo no dia de nosso Batismo. Dou um exemplo: ninguém consegue respirar rápido e fundo três vezes com a boca aberta e a língua para fora. Você sabia disso? Se quiser faça o teste: ponha sua lingua para fora e veja se consegue respirar rápido por três vezes seguidas. Desculpe por fazer você agir como um cachorrinho. Não resisti à brincadeira. Mas falemos sério agora. O dedo que habitualmente chamamos de anelar, é chamado por alguns de dedo fraco, porque é um dedo que a maioria das pessoas não consegue erguer sozinho. Pode até abaixar sozinho, mas não levanta sozinho. Quando pensamos numa aliança, precisamos compreender que muitas vezes a aliança é provada na fraqueza, assim Deus fez conosco. Deus nos escolheu não apesar de nossas fraquezas, nem com as nossas fraquezas, mas por causa de nossas fraquezas. Fraqueza não é o pecado, fraqueza é essa tendência que temos de quer

CONHECER

 Outro dia vi alguém se apresentando como promotor motociclístico da indústria alimentícia nacional/internacional com especialização no tráfego urbano. Depois me explicaram que significava que a pessoa era entregador do i-food. E o nosso promotor está certo! É sadio enaltecer o que somos e o que fazemos, especialmente se buscamos seguir o conselho do Apóstolo de fazer tudo para a glória de Deus. De modo geral, nós tendemos a valorizar nossas coisas, o que até certo ponto, não é ruim. Mas não podemos esquecer que o caminho de Deus é diferente. O caminho de Deus está justamente na desvalorização, ou, se quisermos usar a linguagem de S. Paulo, no esvaziamento. Mas, por que Deus se esvazia?  Porque do seu esvaziamento nasce o preenchimento do homem. Quanto mais Deus se abaixa, mas é possível ao homem elevar-se até Deus. E quando falo de possibilidade não quer dizer que haja outra opção. Por si mesmo o homem pode saber algo de Deus. Mas só por uma iniciativa de Deus o homem O pode conhecer.

NÃO ESTAVA

 Nesse segundo domingo da Páscoa, a Igreja nos traz um Evangelho que aborda uma espécie de vácuo de oito dias. É o vácuo da alma de Tomé, que se dá entre o Domingo da Ressurreição e os "oito dias depois". Cristo havia anunciado aos seus discípulos com detalhes, tudo o que Lhe estava para acontecer em Jerusalém, anunciou sua morte e sua ressurreição três dias depois, mas não "agendou" nenhuma aparição após a Ressurreição. Não disse que após ressuscitar apareceria tal dia e tal hora no cenáculo. Mas há dois fatos que S. João aponta sem dar explicação, sem dizer o porquê: Cristo se faz presente, Tomé se faz ausente. Da mesma forma que nada pode explicar a presença de Cristo, nada pode justificar a ausência de Tomé. Mas o fato é que o Cristo aparece. Não repreende os Apóstolos, não dá uma medalha a João... Aparece e dá a Paz e o Espírito Santo, porque é impossível ter um sem o outro. O Espírito Santo só vêm na Paz e a Paz é fruto do Espírito Santo. E para que Paz e Espí

QUEM PROCURAS?

 Meus prezados amigos, Quando o Santo Evangelho traz a aparição de Cristo Ressuscitado à Santa Maria Madalena, há por duas vezes (uma vez pelos anjos e outra pelo próprio Cristo) a pergunta: "A quem procuras?" Essa pergunta é mais uma das perguntas aparentemente óbvias do Evangelho, mas que perdem um pouco desta obviedade quando as trazemos com sinceridade para a nossa reflexão, para um exame mais detalhado do que realmente queremos. "A quem procuras?"  Meus prezados amigos, a QUEM realmente buscamos? Na nossa oração, na nossa vida, em meio às nossas dificuldades? Se é Cristo, que paz recebemos ao perceber que é Ele mesmo que nos pergunta! Mas se não é. Caímos na busca insaciável do próprio eu, das coisas etc. Uma busca insaciável porque nada, senão Ele, pode saciar.  "A quem procuras?" Mas há também a necessidade de nos despirmos de nossas ideias e pré-concepções sobre Deus. Aqui a própria Santa Maria Madalena nos mostra que mesmo a nossa busca por Deus n